A Importância do Reconhecimento e
Libertação de Relações Disfuncionais
Todos os grupos humanos tendem a ser, de alguma forma, sectários devido à nossa natureza. O problema não está em pertencer a uma seita, mas sim quando essa relação se torna disfuncional. Ao perceber isso, é crucial reconhecer a situação e começar a buscar libertação.
Minha jornada pessoal foi complexa. Enfrentei diversas situações difíceis que desafiaram minha sanidade e minhas crenças. Foi extremamente doloroso reconhecer que algo no qual investi tantas energias se transformou em uma realidade completamente diferente da idealizada. Só então percebi que o que considerava normal era, na verdade, abuso. Foi nesse momento que entendi que estava vivendo uma ilusão entre o que eu acreditava e o que enxergava acontecendo comigo e com outras pessoas próximas.
Desfazer todo o sistema de crenças e relações com a vida, incluindo elementos que eu considerava importantes, foi muito desafiador. Por isso, compartilho algumas informações que podem ser úteis para quem está passando por algo semelhante.
É importante reconhecer que é comum dizer que a sua situação é diferente. A negação é natural no início do processo, e isso é normal. Apenas considere as informações a seguir e observe sem criar justificativas. Reflita se você aceitaria as mesmas situações em seu trabalho ou em um casamento. Isso pode ser uma reflexão útil.
Como reconhecer um grupo disfuncional?
Teste de Identificação de Grupos Disfuncionais
Instruções: Responda cada pergunta com “Sim” ou “Não”.
- O grupo tenta controlar aspectos significativos da sua vida pessoal, como suas decisões e relacionamentos?
- Você sente que está se afastando de amigos e familiares fora do grupo?
- O grupo insiste que suas crenças e doutrinas não podem ser questionadas e são a única verdade?
- Existe uma estrutura hierárquica no grupo onde a liderança é considerada infalível e suas ordens são seguidas sem questionamento?
- O grupo utiliza punições ou recompensas para forçar os membros a seguir suas regras?
- O grupo mantém informações ou práticas exclusivas que são escondidas de não-membros?
- Você frequentemente se sente culpado ou com medo de desobedecer às regras do grupo?
- O grupo apresenta uma visão maniqueísta do mundo, dividindo tudo de forma extrema?
- O grupo promete resultados para problemas pessoais ou espirituais?
- Você sente uma dependência emocional intensa do grupo e de seus líderes, que dificulta suas decisões independentes?
Resultados:
- 0-3 respostas “Sim”: O grupo pode não apresentar características disfuncionais significativas. Continue avaliando seu envolvimento com discernimento.
- 4-7 respostas “Sim”: O grupo pode ter alguns sinais de disfunção. É aconselhável reavaliar sua participação e considerar buscar apoio externo.
- 8-10 respostas “Sim”: O grupo apresenta muitos sinais de disfunção. É importante buscar apoio e considerar seriamente se afastar para proteger seu bem-estar.
Conselhos para familiares de pessoas
envolvidas com grupos disfuncionais
Se você tem um ente querido envolvido com grupos disfuncionais, o primeiro conselho é evitar mostrar materiais sobre seitas ou acusar a pessoa ou a instituição de sectarismo. Haverá um momento apropriado para isso, mas primeiro a pessoa precisa perceber a situação por conta própria.
Aqui estão outros 10 conselhos que podem ser úteis:
- Eduque-se Sobre o Grupo: Antes de intervir, procure entender o que é o grupo, suas práticas, e como ele afeta os membros. Isso ajudará a abordar a situação com mais conhecimento e empatia. Pesquise na internet pelo nome do grupo + o termo “seita”, pois você encontrará muita informação relevante. Em grupos internacionais, pesquise em outros idiomas. Como exemplo, existe uma matéria muito bem feita pelo Jornal El País do Uruguai abordando denúncias sobre o grupo no qual eu fiz parte.
- Mantenha a Calma e Seja Empático: Aborde seu ente querido com calma e empatia, sem julgamentos ou acusações. Mostrar compreensão pode abrir portas para um diálogo mais produtivo. Procure desenvolver uma estratégia mais com perguntas do que com afirmações, pois as perguntas podem abrir espaço para a reflexão.
- Estabeleça um Canal de Comunicação: Tente manter uma linha de comunicação aberta e honesta. Mostre interesse genuíno pelo que seu ente querido está passando e evite confrontos diretos.
- Respeite as Escolhas Pessoais: Reconheça que a decisão de permanecer no grupo é, em última análise, a do seu ente querido. Forçar uma mudança pode levar a uma resistência maior e ao fechamento do diálogo.
- Ofereça Apoio Incondicional: Seja um pilar de apoio emocional. Demonstrar que você está presente e disponível para ajudar, sem pressões, pode fazer a diferença.
- Evite Isolamento: Não tente isolar o membro do grupo ou fazer com que se sinta culpado por estar envolvido. O isolamento pode fortalecer a conexão com o grupo e aumentar a resistência.
- Proporcione Alternativas Positivas: Ofereça alternativas saudáveis e construtivas, como atividades, grupos de apoio ou novos interesses que possam ajudar a preencher o espaço deixado pelo grupo disfuncional.
- Busque Ajuda Profissional: Considere procurar o auxílio de um terapeuta ou conselheiro especializado em cultos e grupos disfuncionais. Eles podem oferecer orientações específicas para ajudar seu ente querido.
- Foque em Pequenas Mudanças: Concentre-se em pequenas mudanças que possam gradualmente ajudar seu ente querido a ver a situação de forma diferente, sem forçar uma mudança radical de imediato.
- Prepare-se para Resistência: Esteja preparado para resistência e dificuldades. A mudança é um processo lento e pode haver resistência inicial. Continue oferecendo apoio e esteja pronto para enfrentar desafios com paciência e persistência.
Você deseja sair? Prepare-se antes
Desligar-se de um grupo disfuncional nunca é fácil, e ao fazê-lo, você precisará reconstruir vários aspectos da sua vida. Portanto, é essencial se preparar para que esse processo seja menos traumático. Aqui estão alguns conselhos para esse momento:
- Procure ajuda psicológica: Talvez você tenha sido ensinado a subestimar a importância da ajuda psicológica, especialmente por já “ter” essa ajuda dos guias do grupo. Evite discutir assuntos pessoais com esses guias e busque apoio especializado. Um psicólogo pode auxiliar sem julgamentos, e o simples ato de compartilhar sua história pode trazer clareza à sua situação.
- Reavalie Sua Vida de Forma Abrangente: Como estão seu trabalho, seus relacionamentos fora do grupo e sua família? Seus projetos de vida devem ser prioridade. Se você interrompeu seus estudos para dedicar mais tempo ao grupo, retome-os. Reaproxime-se de seus pais e familiares, se necessário. Tire o grupo do centro da sua vida e coloque-o no lugar que sempre deveria ocupar: uma parte restrita da sua existência.
- Prepare-se Financeiramente: Muitas pessoas que têm relações profissionais com membros do grupo perdem essas conexões ao se desligarem, o que pode desestabilizá-las financeiramente. Comece a reorganizar sua vida profissional para não depender do grupo ou de seus membros.
- Questione Suas Crenças: A maioria das “verdades” que temos são frágeis e sem base sólida, resultado de anos de exposição ao conteúdo do grupo em vez de um estudo comparativo real. Quando sair, essas crenças podem ser um obstáculo para lidar com a realidade. Antes de se desligar, abra sua mente para outras perspectivas, mas tome cuidado para não apenas trocar de muletas.
- Emancipe-se: Seu verdadeiro guia é seu interior. Libere-se de qualquer domínio ou vínculo emocional com pessoas a quem você delegou a condução da sua vida.
- Guarde Documentos e Registros do Grupo: Inicialmente, você pode sentir que está traindo o grupo, mas isso pode ser útil no futuro, por exemplo, ao identificar situações de assédio moral. Esses registros podem servir como prova para ações mais firmes e como proteção contra possíveis retaliações do grupo. Consultar advogados de fora do grupo também pode ser valioso. No meu caso, essa dica foi crucial para minha proteção.
- Descubra Ferramentas e Práticas para Romper Contratos Energéticos: Muitos grupos utilizam ritos, explícitos ou não, para criar compromissos entre o membro e a instituição. Esses ritos podem parecer ineficazes, mas podem mantê-lo preso à energia do grupo mesmo após sua saída. Ao se desligar, é vital adotar práticas para romper esses vínculos e contratos, recuperando assim sua autonomia energética.
- Cultive Novas Relações: Após deixar o grupo, é importante construir um novo círculo social que não esteja ligado à antiga instituição. Participe de atividades e grupos que reflitam seus interesses e valores atuais. Essas novas conexões podem fornecer apoio emocional e ajudá-lo a redescobrir sua identidade fora do grupo.
- Desenvolva Novas Habilidades: Aproveite a oportunidade para aprender novas habilidades que possam enriquecer sua vida pessoal e profissional. Isso não apenas ajuda a distrair a mente das dificuldades enfrentadas durante o desligamento, mas também aumenta sua autoconfiança e capacidade de adaptação a novas situações.
- Pratique o Autocuidado: Priorize seu bem-estar físico, mental e emocional. Isso inclui estabelecer uma rotina saudável de sono, alimentação e exercícios, além de dedicar tempo a práticas de meditação ou relaxamento. Cuidar de si mesmo é essencial para enfrentar os desafios do desligamento e reconstruir uma vida equilibrada e satisfatória.